10 de nov. de 2009

A TURBA DA UNIBAN

É POR ESSAS E OUTRAS QUE TODAS AS MULHERES DEVEM REIVINDICAR O FEMINISMO...

Encaminho abaixo um artigo, dos melhores que vi, sobre o Caso Geisy, ocorrido nos corredores da UNIBAN, Faculdade de posições e uma horda de ALUNOS(na etimologia real da palavra - "seres que não possuem luz") facistas.
Boa Leitura!
ISa - Mulher e Feminista


Da Folha de S.Paulo, Ilustrada E-15, 05.11.2009.
CONTARDO CALLIGARIS

As turbas têm um ponto em comum: detestam a ideia de que a mulher tenha desejo próprio

NA SEMANA passada, em São Bernardo, uma estudante de primeiro ano do curso noturno de turismo da Uniban (Universidade Bandeirante de São Paulo) foi para a faculdade pronta para encontrar seu namorado depois das aulas: estava de minivestido rosa, saltos altos, maquiagem -uniforme de balada.

O resultado foi que 700 alunos da Uniban saíram das salas de aula e se aglomeraram numa turba: xingaram, tocaram, fotografaram e filmaram a moça. Com seus celulares ligados na mão, como tochas levantadas, eles pareciam uma ralé do século 16 querendo tocar fogo numa perigosa bruxa.

A história acabou com a jovem estudante trancada na sala de sua turma, com a multidão pressionando, por porta e janelas, pedindo explicitamente que ela fosse entregue para ser estuprada. Alguns colegas, funcionários e professores conseguiram proteger a moça até a chegada da PM, que a tirou da escola sob escolta, mas não pôde evitar que sua saída fosse acompanhada pelo coro dos boçais escandindo: "Pu-ta, pu-ta, pu-ta".

Entre esses boçais, houve aqueles que explicaram o acontecido como um "justo" protesto contra a "inadequação" da roupa da colega. Difícil levá-los a sério, visto que uma boa metade deles saiu das salas de aula com seu chapéu cravado na cabeça.

Então, o que aconteceu? Para responder, demos uma volta pelos estádios de futebol ou pelas salas de estar das famílias na hora da transmissão de um jogo. Pois bem, nos estádios ou nas salas, todos (maiores ou menores) vocalizam sua opinião dos jogadores e da torcida do time adversário (assim como do árbitro, claro, sempre "vendido") de duas maneiras fundamentais: "veados" e "filhos da puta".

Esses insultos são invariavelmente escolhidos por serem, na opinião de ambas as torcidas, os que mais podem ferir os adversários. E o método da escolha é simples: a gente sempre acha que o pior insulto é o que mais nos ofenderia. Ou seja, "veados" e "filhos da puta" são os insultos que todos lançam porque são os que ninguém quer ouvir.

Cuidado: "veado", nesse caso, não significa genericamente homossexual. Tanto assim que os ditos "veados", por exemplo, são encorajados vivamente a pegar no sexo de quem os insulta ou a ficar de quatro para que possam ser "usados" por seus ofensores. "Veado", nesse insulto, está mais para "bichinha", "mulherzinha" ou, simplesmente, "mulher".

Quanto a "filho da puta", é óbvio que ninguém acredita que todas as mães da torcida adversa sejam profissionais do sexo. "Puta", nesse caso (assim como no coro da Uniban), significa mulher licenciosa, mulher que poderia (pasme!) gostar de sexo.

Os membros das torcidas e os 700 da Uniban descobrem assim um terreno comum: é o ódio do feminino -não das mulheres como gênero, mas do feminino, ou seja, da ideia de que as mulheres tenham ou possam ter um desejo próprio.

O estupro é, para essas turbas, o grande remédio: punitivo e corretivo. Como assim? Simples: uma mulher se aventura a desejar? Ela tem a impudência de "querer"? Pois vamos lhe lembrar que sexo, para ela, deve permanecer um sofrimento imposto, uma violência sofrida -nunca uma iniciativa ou um prazer.

A violência e o desprezo aplicados coletivamente pelo grupo só servem para esconder a insuficiência de cada um, se ele tivesse que responder ao desejo e às expectativas de uma parceira, em vez de lhe impor uma transa forçada.

Espero que o Ministério Público persiga os membros da turba da Uniban que incitaram ao estupro. Espero que a jovem estudante encontre um advogado que a ajude a exigir da própria Uniban (incapaz de garantir a segurança de seus alunos) todos os danos morais aos quais ela tem direito. E espero que, com isso, a Uniban se interrogue com urgência sobre como agir contra a ignorância e a vulnerabilidade aos piores efeitos grupais de 700 de seus estudantes. Uma sugestão, só para começar: que tal uma sessão de "Zorba, o Grego", com redação obrigatória no fim?

Agora, devo umas desculpas a todas as mulheres que militam ou militaram no feminismo. Ainda recentemente, pensei (e disse, numa entrevista) que, ao meu ver, o feminismo tinha chegado ao fim de sua tarefa histórica. Em particular, eu acreditava que, depois de 40 anos de luta feminista, ao menos um objetivo tivesse sido atingido: o reconhecimento pelos homens de que as mulheres (também) desejam. Pois é, os fatos provam que eu estava errado.



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4 de out. de 2009

QUEM TEM DINDA TEM TUDO! (Hoje sei muito disso!)


Essa postagem é uma licença poética/sentimental apenas para lembrar o aniversário de alguém muito especial!!!

Dinda,
Apesar de estarmos em margens opostas do Oceano Atlântico, sei que sempre estaremos ligadas... Para provar isso, mando Úrsula de presente aí em cima... (meu brinquedo preferido da infância!)
Minha segunda mãe, Parabéns!!!
Beijo
Dodó


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VIRALATAS TENTAM ATRAPALHAR A FESTA DO RIO - 2016


Um texto bem legal que recebi, sobre a vitória do Brasil na disputa por sediar os Jogos Olímpicos!
Que os agourentos mordam as bochechas da bunda...
Comemoremos, pois!!!

publicada sábado, 03/10/2009 às 00:07

O complexo de vira-lata segue fortíssimo em nosso país. Se bem que, agora, parece mais restrito a setores da classe média...

Falo das estranhas reações a esse acontecimento maravilhoso: a vitória do Rio como sede das Olimpíadas de 2016.

Estava eu fora do alcance da internet - gravando uma reportagem nas proximidades de Iguape, no litoral sul de São Paulo - quando o Rio foi anunciado vencedor. Comemorei, em mensagens enviadas por celular à minha mulher - que é carioca.
Quando cheguei a São Paulo, na noite desta sexta, também comemorei com meu filho Vicente, outro nascido no Rio de Janeiro.

Dois brasileiros que ajudam o país a superar o complexo de vira-lata
Em qualquer lugar do planeta seria mesmo motivo para comemorar. Mas, no Brasil, aparecem nessas horas os corvos agourentos: e a a corrupção? e as favelas? e a violência?

Mas que diabos! Parece-me tão óbvio que Olimpíadas não são (nem nunca serão) o remédio para nossos problemas seculares, parece-me isso tão óbvio (repito!) que sinto até vergonha de precisar argumentar diante de certas coisas que comecei a ouvir e a ler, assim que botei os pés de novo em São Paulo, nesta histórica sexta-feira.

Aos poucos, fui-me lembrando das diferenças entre Rio e São Paulo. Paulistano que sou, posso dizer sem medo de errar: parte das pessoas que vivem aqui na minha terra não gosta muito do Brasil. A verdade é essa.

Era esse o tom dos comentários que ouvi no rádio do carro, a caminho de casa. O locutor ia lendo os e-mails dos ouvintes, que criticavam a escolha do Rio: eram comentários mal-humorados, ranhetas, complexados.

No futebol, o brasileiro superou esse complexo de vira-lata. Nelson Rodrigues foi quem cunhou a expressão. Foi ele também quem mostrou como Pelé, com sua pose de rei, indicava a seus colegas em campo: somos fortes, somos bons, falta só acreditar em nós mesmos.

Lá pelas décadas de 50/60, com Pelé, superamos o complexo. Mas só no futebol. A síndrome do vira-lata infeliz continuou a nos abater em outras áreas..
Os mais pobres, em anos recentes, parecem ter vencido o complexo. Até porque não têm muita escolha. São brasileiros até o último fio de cabelo. Para o bem e para o mal. Melhor brigar e trabalhar pra fazer dese país uma terra um pouco melhor.
A vitória e a reeleição de Lula são a prova de que parte dos brasileiros, especialmente os de origem mais humilde, superou o complexo. É uma parcela de brasileiros que foi capaz de eleger um homem monoglota, sem estudo, e além de tudo sem um dedo (ah, como essa marca do trabalho braçal incomoda nossas elites) para liderar o país.

Em contrapartida, a escolha - por duas vezes - de um presidente com esse perfil parece ter acirrado ainda mais o complexo de vira-lata, entre certos setores de nossa classe média. É uma parte dos brasileiros (e como são numerosos em São Paulo) que não gostam de ser brasileiros. Gostam de ser netos de italianos, bisnetos de alemães, trinetos de poloneses, tataranetos de espanhóis.

Eles se envergonham do Lula que discursa em "português" na cerimônia do comitê olímpico (ouvi um sujeito falando disso hoje na rua). Queriam que discursasse em javanês?

Eles se envergonham do Lula que chora. Preferiam, talvez, o tom afetado daquele outro presidente, que adorava fazer piadas sem graça, e preferia discursar em francês ou inglês (tremendo complexo de vira-lata) para agradar os gringos...
Com Lula, o Brasil deixou de se ver como colônia.

Os problemas do Brasil - com ou sem Olimpíadas - são enormes. Cabe a nós resolvê-los. Podemos tentar fazer as duas coisas ao mesmo tempo: cuidar de nossos problemas, e organizar as Olimpíadas. Isso parece uma obviedade sem tamanho!
Ou alguém acha - por exemplo - que um sujeito, só porque ainda está pagando as prestações da casa, não pode fazer uma bela festa de fim-de-ano para os vizinhos e os amigos?

A escolha do Rio é reconhecimento da grandeza do Brasil. Não deve nos fazer ufanistas. Mas a verdade é que merecemos comemorar. Sem dar bola para os corvos agourentos. Eles que curem seus complexos viajando para Miami nas férias. E deixem o Brasil trabalhar para fazer uma bela Olimpíada em 2016.
Parabéns ao Rio. Viva o Brasil.

http://www.rodrigovianna.com.br/palavra-minha/viralatas-tentam-atrapalhar-a-festa-do-rio2016




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GRACIAS A LA VIDA, QUE ME HA DADO TANTO...

MORRE MERCEDES SOSA - UMA PERDA PARA O MUNDO

Mercedes Sosa em entrevista coletiva no Equador
04 de outubro de 2009
Foto: AP

A cantora argentina Mercedes Sosa morreu neste domingo (4), aos 74 anos, depois de permanecer internada por 11 dias em um hospital na cidade de Buenos Aires, segundo informou a sua família através do site oficial da artista.

Mercedes sofria de uma doença hepática, que foi complicada por problemas respiratórios. A cantora estava em coma desde a quinta-feira passada e respirando com a ajuda de aparelhos. Seu corpo será velado no Salão dos Passos Perdidos, no Congresso Nacional Argentino.

Haydé Mercedes Sosa nasceu no dia 9 de julho de 1935, na cidade de San Miguel de Tucumán. Com uma carreira de 60 anos, transitou por diversos países do mundo, dividiu o palco com inúmeros e prestigiosos artistas e deixou uma grande discografia.

"Sua voz levava mensagens de compromisso social através da música da raiz folclórica, sem prejuízos de somar outras vertentes e expressões de qualidade musical. Seu talento indiscutível, sua honestidade e suas profundas convicções deixam uma enorme herança para as gerações futuras", diz a sua família no comunicado publicado no site oficial da cantora.

Mercedes Sosa nasceu em Tucamán, Argentina, em 9 de julho de 1935. É uma cantora de grande apelo popular na América Latina e conhecida como La Negra pela cor das longas e lisas madeixas.

Ganhou destaque muito nova, com quinze anos de idade, após se apresentar em uma competição de uma rádio da sua cidade natal e conseguiu um contrato de dois meses. O timbre marcante levou Mercedes a gravar o primeiro disco Canciones con Fundamento, em 1965, com um perfil de folk argentino.

Mas foi em 1967 que se consagrou internacionalmente após gravar o sucesso Cantata Sudamericana e Mujeres Argentinas, com Ariel Ramirez e Feliz Luna. A música foi em homenagem à chinela Violeta Parra.

Já atuou com diversos músicos, como Milton Nascimento, Fagner e Silvio Rodríguez.
De personalidade marcante, Sosa é conhecida também como uma ativista política de esquerda, sendo peronista na juventude. Se posicionou contra à figura de carlos Menem e apoioi a eleição do ex-prediente Néstor Kirchner.

Toda essa procupação inclusive fica evidente em seu repertório, tornando-se uma das grandes expoentes da Nueva Canción, movimento musical nos anos 60, com raízes africanas, cubanas, andinas e espanholas. Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque são representantes.

Possui um dueto com Beth Carvalho, cada uma cantando no seu idioma, na música So le piedo a Dios, além da parceria que fez com Fagner na música Años, de 1981.

Discografia
La voz de la zafra (1962)
Canciones con fundamento (1965)
Yo no canto por cantar (1966)
Hermano (1966)
Para cantarle a mi gente (1967)
Con sabor a Mercedes Sosa (1968)
Mujeres argentinas (1969)
Navidad con Mercedes Sosa (1970)
El grito de la tierra (1970)
Homenaje a Violeta Parra (1971)
Hasta la victoria (1972)
Cantata Sudamericana (1972)
Traigo un pueblo en mi voz (1973)
Niño de mañana (1975)
A que florezca mi pueblo (1975)
La mamancy (1976)
En dirección del viento (1976)
O cio da terra (1977)
Mercedes Sosa interpreta a Atahualpa Yupanqui (1977)
Si se calla el cantor (1977)
Serenata para la tierra de uno (1979)
A quién doy (1980)
Gravado ao vivo no Brasil (1980)
Mercedes Sosa en Argentina (1982)
Mercedes Sosa (1983)
Como un pájaro libre (1983)
Recital (1983)
¿Será posible el sur? (1984)
Vengo a ofrecer mi corazón (1985)
Corazón Americano (1985)
Mercedes Sosa ´86 (1986)
Mercedes Sosa ´87 (1987)
Gracias a la vida (1987)
Amigos míos (1988)
En vivo en Europa (1990)
De mí (1991)
30 años (1993)
Sino (1993)
Gestos de amor (1994)
Oro (1995)
Escondido en mi país (1996)
Alta fidelidad (1997)
Al despertar (1998)
Misa Criolla (2000)
Acústico (2002)
Argentina quiere cantar (2003)
Corazón Libre (2005)
Filmografia
Güemes, la tierra en armas (1971)
Argentinísima (1972)
Ésta es mi Argentina (1974)
Mercedes Sosa, como un pájaro libre (1983)
Será posible el sur: Mercedes Sosa (1985)
Historias de Argentina en Vivo (2001)

29 de set. de 2009

28 DE SETEMBRO - DIA IMPORTANTE PARA A MULHER VERMELHA

Ontem, 28 de setembro de 2009, foi um dia bastante importante por diversos motivos... Dois desses motivos exponho agora abaixo.


FRENTE DE DESCRINALIZAÇÃO E LEGALIZAÇÃO DO ABORTO É LANÇADA EM SALVADOR
Redação CORREIO

Centro Cultural da Câmara Municipal de Salvador, localizado na Praça Municipal (Centro), abrigará nesta segunda-feira (28), a partir das 19h, o lançamento da Frente de Descriminalização e pela Legalização do Aborto.
O evento coincide com o Dia de Ação pela Descriminalizaçã o do Aborto na América Latina e Caribe e denuncia o alto número de óbitos registrados em mulheres devido à realização de aborto clandestino.
Segundo os integrantes da frente, em cinco anos, mais de 800 delas morreram na Bahia por se submeterem à prática sem assistência médica. Em Salvador, o aborto inseguro é a primeira causa isolada dessas mortes. De janeiro de 2007 a agosto de 2008, cerca de 32 mil mulheres foram atendidas na rede pública em decorrência de complicações pós-aborto. No estado, o movimento tema adesão de organizações vinculadas aos movimentos feminista, negro, sindical e ONGs.
(Notícia publicada na edição impressa do dia 28/09/2009 do CORREIO)



BASSUMA SE DESFILIA DO PT E VAI PARA O PV
Bahia Notícias

Como já era esperado, o deputado federal Luiz Bassuma oficializou nesta segunda-feira (28) o pedido de desfiliação do PT. O protocolo foi registrado no diretório municipal do partido e na 13ª Zona Eleitoral. O destino dele será o mesmo da sua esposa, Rose Bassuma, que será candidata à Câmara Federal em 2010 pelo PV. Punido pela legenda por lutar contra o aborto, o parlamentar foi seduzido por um artigo especial adotado no estatuto dos verdes, depois do ingresso da senadora Marina Silva (AC), única presidenciável, segundo ele, contrária à legalização do procedimento. O Partido Verde incluiu em sua norma a “liberdade de expressão em questões de consciência”. Veja aqui as solicitações de desligamento de Bassuma ao PT e à Justiça Eleitoral.


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22 de set. de 2009

RETORNO A LA DEMOCRACIA CON RESPETO A LOS DERECHOS HUMANOS EN HONDURAS

Declaración del Observatorio sobre la situación de Derechos Humanos en Honduras (OISDHHN) con motivo del regreso del Presidente Manuel Zelaya


San José de Costa Rica, 21 de septiembre de 2009


El regreso a Tegucigalpa del presidente legítimamente elegido en Honduras, Manuel Zelaya, debe contribuir a una salida pacífica de la crisis y a un retorno del orden constitucional interrumpido por el golpe de Estado ocurrido el 28 de junio.


Condenamos una vez más el uso del toque de queda por parte del gobierno de facto como un instrumento de control de la participación ciudadana. Reiteramos que de producirse un "baño de sangre", como lo han anunciado los golpistas en reiteradas ocasiones si el Presidente Zelaya regresara, sería responsabilidad directa del gobierno de facto, que ya tendría que responder por el crimen de persecución política ante la Corte Penal Internacional.


En este sentido, el OISDHHN exige al gobierno de facto que se abstenga de reprimir la movilización ciudadana y evitar la emisión de mensajes que contribuyan a la violencia y, en cambio, permitir el regreso de las autoridades legítimas, asegurar el respeto por los derechos humanos y facilitar un diálogo nacional que contribuya a la salida definitiva de la crisis.


La Resistencia y demás formas de manifestación por la democracia en Honduras que merecen toda nuestra solidaridad, pueden contribuir a este retorno a la democracia con sus propuestas para superar la crisis, su reafirmación de la no violencia y su formidable experiencia de movilización y participación.


Federación Internacional de Derechos Humanos (FIDH)
Centro por la Justicia y el Derecho Internacional (CEJIL)
Iniciativa de Copenhaguen para Centroamérica y México (CIFCA)
FIAN Internacional Federación de Derechos Humanos de España
Suedwind - Austria
IBIS - Dinamarca
Instituto de Derechos Humanos de la Universidad Centroamericana “José Simeón Cañas” (IDHUCA-El Salvador)
Instituto de Estudios Políticos sobre América Latina y África (IEPALAEspaña)
Servicio Paz y Justicia (SERPAJUruguay)
Solidaridad Mundial - Bélgica
Consultoría para los Derechos Humanos y el Desplazamiento (CODHES) - Colombia

17 de set. de 2009

PUNIÇÃO PARA BASSUMA NO PT

Notícia quente...
Apesar do resultado não ser aquele tão desejado FORA BASSUMA! tão ecoados pelas companheiras feministas, petistas e socialistas do PT, o deputado inimigo das mulheres foi julgado pela comissão de ética do DN do PT e punido.
Uma punição pela metade, mas que, se o tal for realmente "temente a Deus" e não arredar o pé de sua "defesa intransigente da vida" (claro que não da vida das mulheres...) isso pode significar o fim da sua estada no Partido dos Trabalhadores. Tomara! Que se vá logo e leve todos os seus...
E para aqueles/as que, sob a bandeira da vontade divina, continuam a desrespeitar a autonomia das mulheres sobre seus próprios corpos, encontrarão resposta à altura no brado feminista: “tirem seus rosários de nossos ovários!!!”
CONTINUAREMOS NA LUTA!!!
FORA BASSUMA!!!



BASSUMA FOI SUSPENSO DO PT

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15:40:51

Acaba de sair a decisão da Comissão Nacional de Ética do PT sobre o caso Bassuma. Ele terá que retirar da tramitação da Câmara Federal todos os seus projetos que condenam o aborto. Além disso, a partir deste momento, não terá direito a voz ativa em nenhuma decisão do Partido dos Trabalhadores. A intenção do colegiado era expulsar o companheiro espírita do partido. Mas, para tanto eram necessários 38 votos favoráveis a punição cabal, enquanto o deputado federal recebeu 35. Tecnicamente Bassuma poderá disputar a reeleição pela legenda. Entretanto, ainda não se sabe se ele se sentirá à vontade na sua “antiga morada”.

(Daniel Pinto)

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19 de ago. de 2009

A DIREITA JOGA VERDE

Acabo de saber da decisão de Marina Silva, nobre companheira (hoje ex-petista), de entrar no PV para candidatar-se à Presidência nas próximas eleições.
Fico entristecida, mas não por achar que sua candidatura ou o interesse em se candidatar seja o problema, mas por sabê-la longe do PT. Por vê-la ensaiar uma ação de direita travestida de "esquerda". Não a culpo somente. Culpo também a lógica atual do PT em confundir-se partido e governo, em fazer ser extinta a sua democracia interna, demonizando as prévias e debate de posições... Marina erra. O PT erra.
O que sei, com todos esses erros, é que perdemos nós, socialistas, petistas, de esquerda. Todos esses erros ou nos destruirão ou nos farão, definitivamente, iguais aos demais. Afinal, os nossos erros são acertos para os de lá...
Boa leitura...

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A DIREITA JOGA VERDE

Não sei se a senadora Marina Silva já decidiu se fica ou sai do PT, se disputa ou não a presidência da República. Mas sua eventual candidatura já está sendo comemorada pela direita brasileira.

O troféu da babação foi para Danuza Leão, autora de um artigo intitulado “Quem tem medo da doutora Dilma” (Folha de S.Paulo, 16 de agosto). Segundo Danuza, “não existe em Dilma um só traço de meiguice, doçura, ternura (....) Lembro de quando Regina Duarte foi para a televisão dizer que tinha medo de Lula (....) Não lembro exatamente de que Regina disse que tinha medo, mas de uma maneira geral era medo de um possível governo Lula. Demorei um pouco para entender o quanto Regina tinha razão. Hoje estamos numa situação pior, e da qual vai ser difícil sair, pois o PT ocupou toda a máquina, como as tropas de um país que invade outro. Com Dilma seria igual ou pior (...) Minha única esperança, atualmente, é a entrada de Marina Silva na disputa eleitoral, para bagunçar a candidatura dos pe tistas (....) Seja bem-vinda, Marina. Tem muito petista arrependido para votar em você e impedir que (...) Dilma Roussef passe para o segundo turno”.

De maneira menos boçal, variantes deste raciocínio foram matéria de capa da Época (“Marina embaralha o jogo eleitoral de 2010”), da IstoÉ (“o Brasil não é só PT e PSDB”), bem como de textos publicados em Veja (que ainda não deu capa) e outras publicações.

Os que comemoram, não acreditam e geralmente não desejam que Marina possa ser presidente; acham apenas que ela pode atrapalhar uma terceira vitória do PT. Ou seja: sua candidatura é vista como linha auxiliar do PSDB, mais ou menos como o Partido Verde se comporta em vários estados do Brasil.

Como ficaria mal falar isto de maneira explícita, a grande imprensa faz três movimentos diversionistas: a) apresenta Marina como candidata de quem “manteve viva a utopia”; b) destaca a importância de incluir o meio ambiente no debate presidencial; c) diz que o Brasil deve escapar da falsa polarização entre PT e PSDB.

A verdade é que a direita não se incomoda com a defesa das utopias e do meio ambiente, desde que essa defesa não se materialize em atos de governo. Por isso, dirão o que for necessário para impedir uma vitória do PT nas eleições de 2010, pois sabem muito bem que nesta quadra da história não haverá presidente de esquerda, nem defesa efetiva do meio ambiente, sem o Partido dos Trabalhadores.

Neste sentido, a crítica à “falsa polarização PT e PSDB” tem o mesmo objetivo daquele discurso que fala que não existem mais diferenças ideológicas: quem se beneficia de ambos é a direita, que opera nos marcos do senso comum e das personalidades, não precisando demarcar diferenças, nem construir organizações coletivas.

Infelizmente, existem setores do PT que alimentam este discurso. Por exemplo, não por coincidência, a senadora Marina Silva, que em artigo intitulado “Renda básica na política” (FSP, 9/2/ 2009) defende que PT e PSDB, que “têm sido as forças mais estáveis no comando do país”, se unam “pelo resgate da política e por meio de um alinhamento ético”. Política de alianças adotada no Acre, segundo consta.

Acontece que estes dois partidos organizam a disputa política brasileira, exatamente porque representam dois projetos nacionais opostos e contrapostos: o neoliberal e o democrático-popular. Não é a disputa entre PT e PSDB que cria esta contraposição; é esta contraposição na vida real (algo que nossos velhos chamavam de luta de classes) que se traduz na disputa política entre os dois partidos.

Que a disputa às vezes assuma formas mesquinhas, rebaixadas, pouco claras ou elegantes, é outro assunto. Mas enquanto aquela contradição de projetos for dominante na sociedade brasileira, enquanto petistas e tucanos representarem projetos opostos, não haverá aliança estratégica entre eles.

Neste sentido, quem tiver a ambição de construir uma terceira via entre PT e PSDB, viverá o mesmo dilema do PSOL em 2006: no segundo turno, dividir-se entre Alckmin e Lula. A direita sabe disto e joga verde apenas para colher serra. Motoserra.

Valter Pomar é secretário de relações internacionais do PT

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20 de jul. de 2009

QUARENTA ANOS DEPOIS...


Apesar de hoje fazer 40 anos que o homem, supostamente, pisou na lua pela primeira (e única) vez, deixo as comemorações (???) deste fato estupendo para a imprensa mundial formal cobrir.
Para não passar em branco, encaminho esta charge-revival que retrata da distância entre a época daquele dia em que a Terra parou e os dias de hoje, mas em relação à educação... Um grande passo para a humanidade. Só não sei para onde...

5 de jul. de 2009

VIOLENTAMENTE PACÍFICO

Reflexões no Bairro da Paz...

Copie e cole:
http://www.youtube.com/watch?v=TsnhnmGF23c

13 de jun. de 2009

PENSAMENTOS DE DIA DOS NAMORADOS

Roubados de Lygia Fagundes Telles, mas hoje bem meus...

"Estranho, sim. As pessoas ficam desconfiadas, ambíguas diante dos apaixonados. Aproximam-se deles, dizem coisas amáveis, mas guardam certa distância, não invadem o casulo imantado que envolve os amantes e que pode explodir como um terreno minado, muita cautela ao pisar nesse terreno. Com sua disciplina indisciplinada, os amantes são seres diferentes e o ser diferente é excluído porque vira desafio, ameaça.
Se o amor na sua doação absoluta os faz mais frágeis, ao mesmo tempo os protege como uma armadura. Os apaixonados voltaram ao Jardim do Paraíso, provaram da Árvore do Conhecimento e agora sabem."

"Na vocação para a vida está incluído o amor, inútil disfarçar, amamos a vida. E lutamos por ela dentro e fora de nós mesmos. Principalmente fora, que é preciso um peito de ferro para enfrentar essa luta na qual entra não só o fervor, mas uma certa dose de cólera, fervor e cólera. Não cortaremos os pulsos, ao contrário, costuraremos com linha dupla todas as feridas abertas."

"A perplexidade do moço diante de certas considerações tão ingênuas, a mesma perplexidade que um dia senti. Depois, com o passar do tempo, a metamorfose na maquinazinha social azeitada pelo hábito de rir sem vontade, de falar sem vontade, de chorar sem vontade, de falar sem vontade, de fazer amor sem vontade... O homem adaptável, ideal. Quanto mais for se apoltronando, mais há de convir aos outros, tão cômodo, tão portátil. Comunicação total, mimetismo: entra numa sala azul, fica azul, numa vermelha vermelho. Um dia se olha no espelho, de que cor eu sou? Tarde demais para sair pela porta afora."

9 de mai. de 2009

HOMENAGEM AO DIA DAS MÃES - FINAL

Como homenagem às mães que amo e, em especial à minha mãe, minha avó e minha irmã, um pouco da literatura de Clarice. (Verdadeira e genial Clarice...)


Os Laços de Família - Clarice Lispector

A mulher e a mãe acomodaram-se finalmente no táxi que as levaria à Estação. A mãe contava e recontava as duas malas tentando convencer-se de que ambas estavam no carro. A filha, com seus olhos escuros, a que um ligeiro estrabismo dava um contínuo brilho de zombaria e frieza assistia.

— Não esqueci de nada? perguntava pela terceira vez a mãe.

— Não, não, não esqueceu de nada, respondia a filha divertida, com paciência.

Ainda estava sob a impressão da cena meio cômica entre sua mãe e seu marido, na hora da despedida. Durante as duas semanas da visita da velha, os dois mal se haviam suportado; os bons-dias e as boas-tardes soavam a cada momento com uma delicadeza cautelosa que a fazia querer rir. Mas eis que na hora da despedida, antes de entrarem no táxi, a mãe se transformara em sogra exemplar e o marido se tornara o bom genro. "Perdoe alguma palavra mal dita", dissera a velha senhora, e Catarina, com alguma alegria, vira Antônio não saber o que fazer das malas nas mãos, a gaguejar - perturbado em ser o bom genro. "Se eu rio, eles pensam que estou louca", pensara Catarina franzindo as sobrancelhas. "Quem casa um filho perde um filho, quem casa uma filha ganha mais um", acrescentara a mãe, e Antônio aproveitara sua gripe para tossir. Catarina, de pé, observava com malícia o marido, cuja segurança se desvanecera para dar lugar a um homem moreno e miúdo, forçado a ser filho daquela mulherzinha grisalha... Foi então que a vontade de rir tornou-se mais forte. Felizmente nunca precisava rir de fato quando tinha vontade de rir: seus olhos tomavam uma expressão esperta e contida, tornavam-se mais estrábicos - e o riso saía pelos olhos. Sempre doía um pouco ser capaz de rir. Mas nada podia fazer contra: desde pequena rira pelos olhos, desde sempre fora estrábica.

— Continuo a dizer que o menino está magro, disse a mãe resistindo aos solavancos do carro. E apesar de Antônio não estar presente, ela usava o mesmo tom de desafio e acusação que empregava diante dele. Tanto que uma noite Antônio se agitara: não é por culpa minha, Severina! Ele chamava a sogra de Severina, pois antes do casamento projetava serem sogra e genro modernos. Logo à primeira visita da mãe ao casal, a palavra Severina tornara-se difícil na boca do marido, e agora, então, o fato de chamá-la pelo nome não impedira que... - Catarina olhava-os e ria.

— O menino sempre foi magro, mamãe, respondeu-lhe. O táxi avançava monótono.

— Magro e nervoso, acrescentou a senhora com decisão.

— Magro e nervoso, assentiu Catarina paciente. Era um menino nervoso, distraído. Durante a visita da avó tornara-se ainda mais distante, dormira mal, perturbado pelos carinhos excessivos e pelos beliscões de amor da velha. Antônio, que nunca se preocupara especialmente com a sensibilidade do filho, passara a dar indiretas à sogra, "a proteger uma criança” ...

— Não esqueci de nada..., recomeçou a mãe, quando uma freada súbita do carro lançou-as uma contra a outra e fez despencarem as malas. — Ah! ah! - exclamou a mãe como a um desastre irremediável, ah! dizia balançando a cabeça em surpresa, de repente envelhecida e pobre. E Catarina?

Catarina olhava a mãe, e a mãe olhava a filha, e também a Catarina acontecera um desastre? seus olhos piscaram surpreendidos, ela ajeitava depressa as malas, a bolsa, procurando o mais rapidamente possível remediar a catástrofe. Porque de fato sucedera alguma coisa, seria inútil esconder: Catarina fora lançada contra Severina, numa intimidade de corpo há muito esquecida, vinda do tempo em que se tem pai e mãe. Apesar de que nunca se haviam realmente abraçado ou beijado. Do pai, sim. Catarina sempre fora mais amiga. Quando a mãe enchia-lhes os pratos obrigando-os a comer demais, os dois se olhavam piscando em cumplicidade e a mãe nem notava. Mas depois do choque no táxi e depois de se ajeitarem, não tinham o que falar - por que não chegavam logo à Estação?

— Não esqueci de nada, perguntou a mãe com voz resignada.

Catarina não queria mais fitá-la nem responder-lhe.

— Tome suas luvas! disse-lhe, recolhendo-as do chão.

— Ah! ah! minhas luvas! exclamava a mãe perplexa. Só se espiaram realmente quando as malas foram dispostas no trem, depois de trocados os beijos: a cabeça da mãe apareceu na janela.

Catarina viu então que sua mãe estava envelhecida e tinha os olhos brilhantes.

O trem não partia e ambas esperavam sem ter o que dizer. A mãe tirou o espelho da bolsa e examinou-se no seu chapéu novo, comprado no mesmo chapeleiro da filha. Olhava-se compondo um ar excessivamente severo onde não faltava alguma admiração por si mesma. A filha observava divertida. Ninguém mais pode te amar senão eu, pensou a mulher rindo pelos olhos; e o peso da responsabilidade deu-lhe à boca um gosto de sangue. Como se "mãe e filha" fosse vida e repugnância. Não, não se podia dizer que amava sua mãe. Sua mãe lhe doía, era isso. A velha guardara o espelho na bolsa, e fitava-a sorrindo. O rosto usado e ainda bem esperto parecia esforçar-se por dar aos outros alguma impressão, da qual o chapéu faria parte. A campainha da Estação tocou de súbito, houve um movimento geral de ansiedade, várias pessoas correram pensando que o trem já partia: mamãe! disse a mulher. Catarina! disse a velha. Ambas se olhavam espantadas, a mala na cabeça de um carregador interrompeu-lhes a visão e um rapaz correndo segurou de passagem o braço de Catarina, deslocando-lhe a gola do vestido. Quando puderam ver-se de novo, Catarina estava sob a iminência de lhe perguntar se não esquecera de nada...

— ...não esqueci de nada? perguntou a mãe.

— Também a Catarina parecia que haviam esquecido de alguma coisa, e ambas se olhavam atônitas - porque se realmente haviam esquecido, agora era tarde demais. Uma mulher arrastava uma criança, a criança chorava, novamente a campainha da Estação soou... Mamãe, disse a mulher. Que coisa tinham esquecido de dizer uma a outra? e agora era tarde demais. Parecia-lhe que deveriam um dia ter dito assim: sou tua mãe, Catarina. E ela deveria ter respondido: e eu sou tua filha.

— Não vá pegar corrente de ar! gritou Catarina.

— Ora menina, sou lá criança, disse a mãe sem deixar porém de se preocupar com a própria aparência. A mão sardenta, um pouco trêmula, arranjava com delicadeza a aba do chapéu e Catarina teve subitamente vontade de lhe perguntar se fora feliz com seu pai:

— Dê lembranças a titia! gritou.

— Sim, sim!

— Mamãe, disse Catarina porque um longo apito se ouvira e no meio da fumaça as rodas já se moviam.

— Catarina! disse a velha de boca aberta e olhos espantados, e ao primeiro solavanco a filha viu-a levar as mãos ao chapéu: este caíra-lhe até o nariz, deixando aparecer apenas a nova dentadura. O trem já andava e Catarina acenava. O rosto da mãe desapareceu um instante e reapareceu já sem o chapéu, o coque dos cabelos desmanchado caindo em mechas brancas sobre os ombros como as de uma donzela - o rosto estava inclinado sem sorrir, talvez mesmo sem enxergar mais a filha distante.

No meio da fumaça Catarina começou a caminhar de volta, as sobrancelhas franzidas, e nos olhos a malícia dos estrábicos. Sem a companhia da mãe, recuperara o modo firme de caminhar: sozinha era mais fácil. Alguns homens a olhavam, ela era doce, um pouco pesada de corpo. Caminhava serena, moderna nos trajes, os cabelos curtos pintados de acaju. E de tal modo haviam-se disposto as coisas que o amor doloroso lhe pareceu a felicidade - tudo estava tão vivo e tenro ao redor, a rua suja, os velhos bondes, cascas de laranja - a força fluia e refluia no seu coração com pesada riqueza. Estava muito bonita neste momento, tão elegante; integrada na sua época e na cidade onde nascera como se a tivesse escolhido. Nos olhos vesgos qualquer pessoa adivinharia o gosto que essa mulher tinha pelas coisas do mundo. Espiava as pessoas com insistência, procurando fixar naquelas figuras mutáveis seu prazer ainda úmido de lágrimas pela mãe. Desviou-se dos carros, conseguiu aproximar-se do ônibus burlando a fila, espiando com ironia; nada impediria que essa pequena mulher que andava rolando os quadris subisse mais um degrau misterioso nos seus dias.

O elevador zumbia no calor da praia. Abriu a porta do apartamento enquanto se libertava do chapeuzinho com a outra mão; parecia disposta a usufruir da largueza do mundo inteiro, caminho aberto pela sua mãe que lhe ardia no peito. Antônio mal levantou os olhos do livro. A tarde de sábado sempre fora "sua", e, logo depois da partida de Severina, ele a retomava com prazer, junto à escrivaninha.

— "Ela" foi?

— Foi sim, respondeu Catarina empurrando a porta do quarto de seu filho. Ah, sim, lá estava o menino, pensou com alívio súbito. Seu filho. Magro e nervoso. Desde que se pusera de pé caminhara firme; mas quase aos quatro anos falava como se desconhecesse verbos: constatava as coisas com frieza, não as ligando entre si. Lá estava ele mexendo na toalha molhada, exato e distante. A mulher sentia um calor bom e gostaria de prender o menino para sempre a este momento; puxou-lhe a toalha das mãos em censura: este menino! Mas o menino olhava indiferente para o ar, comunicando-se consigo mesmo. Estava sempre distraído. Ninguém conseguira ainda chamar-lhe verdadeiramente a atenção. A mãe sacudia a toalha no ar e impedia com sua forma a visão do quarto: mamãe, disse o menino. Catarina voltou-se rápida. Era a primeira vez que ele dizia "mamãe" nesse tom e sem pedir nada. Fora mais que uma constatação: mamãe! A mulher continuou a sacudir a toalha com violência e perguntou-se a quem poderia contar o que sucedera, mas não encontrou ninguém que entendesse o que ela não pudesse explicar. Desamarrotou a toalha com vigor antes de pendurá-la para secar. Talvez pudesse contar, se mudasse a forma. Contaria que o filho dissera: mamãe, quem é Deus. Não, talvez: mamãe, menino quer Deus. Talvez. Só em símbolos a verdade caberia, só em símbolos é que a receberiam. Com os olhos sorrindo de sua mentira necessária, e sobretudo da própria tolice, fugindo de Severina, a mulher inesperadamente riu de fato para o menino, não só com os olhos: o corpo todo riu quebrado, quebrado um invólucro, e uma aspereza aparecendo como uma rouquidão. Feia, disse então o menino examinando-a.

— Vamos passear! respondeu corando e pegando-o pela mão.

Passou pela sala, sem parar avisou ao marido: vamos sair! e bateu a porta do apartamento.

Antônio mal teve tempo de levantar os olhos do livro - e com surpresa espiava a sala já vazia. Catarina! chamou, mas já se ouvia o ruído do elevador descendo. Aonde foram? perguntou-se inquieto, tossindo e assoando o nariz. Porque sábado era seu, mas ele queria que sua mulher e seu filho estivessem em casa enquanto ele tomava o seu sábado. Catarina! chamou aborrecido embora soubesse que ela não poderia mais ouvi-lo. Levantou-se, foi à janela e um segundo depois enxergou sua mulher e seu filho na calçada.

Os dois haviam parado, a mulher talvez decidindo o caminho a tomar. E de súbito pondo-se em marcha.

Por que andava ela tão forte, segurando a mão da criança? pela janela via sua mulher prendendo com força a mão da criança e caminhando depressa, com os olhos fixos adiante; e, mesmo sem ver, o homem adivinhava sua boca endurecida. A criança, não se sabia por que obscura compreensão, também olhava fixo para a frente, surpreendida e ingênua. Vistas de cima as duas figuras perdiam a perspectiva familiar, pareciam achatadas ao solo e mais escuras à luz do mar. Os cabelos da criança voavam...

O marido repetiu-se a pergunta que, mesmo sob a sua inocência de frase cotidiana, inquietou-o: aonde vão? Via preocupado que sua mulher guiava a criança e temia que neste momento em que ambos estavam fora de seu alcance ela transmitisse a seu filho... mas o quê? "Catarina", pensou, "Catarina, esta criança ainda é inocente!" Em que momento é que a mãe, apertando uma criança, dava-lhe esta prisão de amor que se abateria para sempre sobre o futuro homem. Mais tarde seu filho, já homem, sozinho, estaria de pé diante desta mesma janela, batendo dedos nesta vidraça; preso. Obrigado a responder a um morto. Quem saberia jamais em que momento a mãe transferia ao filho a herança. E com que sombrio prazer. Agora mãe e filho compreendendo-se dentro do mistério partilhado. Depois ninguém saberia de que negras raízes se alimenta a liberdade de um homem. "Catarina", pensou com cólera, "a criança é inocente!" Tinham porém desaparecido pela praia. O mistério partilhado.

"Mas e eu? e eu?" perguntou assustado. Os dois tinham ido embora sozinhos. E ele ficara. "Com o seu sábado." E sua gripe. No apartamento arrumado, onde "tudo corria bem". Quem sabe se sua mulher estava fugindo com o filho da sala de luz bem regulada, dos móveis bem escolhidos, das cortinas e dos quadros? fora isso o que ele lhe dera. Apartamento de um engenheiro. E sabia que se a mulher aproveitava da situação de um marido moço e cheio de futuro - deprezava-a também, com aqueles olhos sonsos, fugindo com seu filho nervoso e magro. O homem inquietou-se. Porque não poderia continuar a lhe dar senão: mais sucesso. E porque sabia que ela o ajudaria a consegui-lo e odiaria o que conseguissem. Assim era aquela calma mulher de trinta e dois anos que nunca falava propriamente, como se tivesse vivido sempre. As relações entre ambos eram tão tranqüilas. Às vezes ele procurava humilhá-la, entrava no quarto enquanto ela mudava de roupa porque sabia que ela detestava ser vista nua. Por que precisava humilhá-la? no entanto ele bem sabia que ela só seria de um homem enquanto fosse orgulhosa. Mas tinha se habituado a torna-la feminina deste modo: humilhava-a com ternura, e já agora ela sorria - sem rancor? Talvez de tudo isso tivessem nascido suas relações pacíficas, e aquelas conversas em voz tranqüila que faziam a atmosfera do lar para a criança. Ou esta se irritava às vezes? Às vezes o menino se irritava, batia os pés, gritava sob pesadelos. De onde nascera esta criaturinha vibrante, senão do que sua mulher e ele haviam cortado da vida diária. Viviam tão tranqüilos que, se se aproximava um momento de alegria, eles se olhavam rapidamente, quase irônicos, e os olhos de ambos diziam: não vamos gastá-lo, não vamos ridiculamente usá-lo. Como se tivessem vívido desde sempre.

Mas ele a olhara da janela, vira-a andar depressa de mãos dadas com o filho, e dissera-se: ela está tomando o momento de alegria - sozinha. Sentira-se frustrado porque há muito não poderia viver senão com ela. E ela conseguia tomar seus momentos - sozinha. Por exemplo, que fizera sua mulher entre o trem e o apartamento? não que a suspeitasse mas inquietava-se.

A última luz da tarde estava pesada e abatia-se com gravidade sobre os objetos. As areias estalavam secas. O dia inteiro estivera sob essa ameaça de irradiação. Que nesse momento, sem rebentar, embora, se ensurdecia cada vez mais e zumbia no elevador ininterrupto do edifício. Quando Catarina voltasse eles jantariam afastando as mariposas. O menino gritaria no primeiro sono, Catarina interromperia um momento o jantar... e o elevador não pararia por um instante sequer?! Não, o elevador não pararia um instante.

— "Depois do jantar iremos ao cinema", resolveu o homem. Porque depois do cinema seria enfim noite, e este dia se quebraria com as ondas nos rochedos do Arpoador.


(Texto extraído do livro "Laços de Família", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1998, pág. 94.)

HOMENAGEM AO MÊS DAS MÃES Nº02

MÃE MUITO AMADA...

8 de mai. de 2009

POEMA EM LINHA RETA

Fernando Pessoa - Heterônimo: Álvaro de Campos

(Para meu querido pai... Relaxe, pois não podemos ter a pretensão de ser mais do que humanos... Demasiadamente, humanos... Te amo!)


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


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4 de mai. de 2009

HOMENAGEM AO MÊS DAS MÃES Nº01

MÃE NATUREZA






Retirada do blog: http://www.arquitetumba.blogger.com.br/

2 de mai. de 2009

HOMENAGEM AO MESTRE DO TEATRO DO OPRIMIDO

MEU CARO AMIGO

Chico Buarque
Composição: Chico Buarque / Francis Hime

Meu caro amigo me perdoe, por favor
Se eu não lhe faço uma visita
Mas como agora apareceu um portador
Mando notícias nessa fita

Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol

Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

Muita mutreta pra levar a situação
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
E a gente vai tomando e também sem a cachaça
Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu não pretendo provocar
Nem atiçar suas saudades
Mas acontece que não posso me furtar
A lhe contar as novidades

Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol

Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

É pirueta pra cavar o ganha-pão
Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro
E a gente vai fumando que, também, sem um cigarro
Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu quis até telefonar
Mas a tarifa não tem graça
Eu ando aflito pra fazer você ficar
A par de tudo que se passa

Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol

Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

Muita careta pra engolir a transação
E a gente tá engolindo cada sapo no caminho
E a gente vai se amando que, também, sem um carinho
Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever
Mas o correio andou arisco
Se me permitem, vou tentar lhe remeter
Notícias frescas nesse disco

Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol

Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

A Marieta manda um beijo para os seus
Um beijo na família, na Cecília e nas crianças
O Francis aproveita pra também mandar lembranças
A todo o pessoal
Adeus


(Carta em forma de música feita por Chico em homenagem a Boal,que estava exilado em Lisboa. Hoje, minha homenagem também!)



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AUGUSTO BOAL, PRESENTE!!!

JOSÉ SERRA E SUA EXPLICAÇÃO EXDRÚXULA SOBRE A GRIPE SUÍNA...

Vejam no Youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=Iqx_00LXOKI&feature=player_embedded



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30 de abr. de 2009

GRIPE NORTE-AMERICANA - DE INFLUENZA "SUÍNA" À INFLUENZA "A"




Por Isadora Salomão



Nessa semana fomos pegos em todo mundo com a possibilidade de uma Pandemia...
Tudo por causa de uma gripe surgida, inicialmente, no México, EUA e Canadá e que vem tomando o resto do mundo com uma rapidez alarmante. De tempos em tempos o mundo se depara com um vírus assim... Alguns milhões de pessoas se vão, outros bilhões se fortalecem até a próxima mutação...

Essa nova ganhou logo um nome: "gripe suína".
(mesmo sabendo-se que esta é uma mutação da influenza comum, com a aviária e a suína)
Podia ser gripe mexicana, norte-americana, sei lá! Vai ver era melhor ligar algo tão negativo assim, como uma "mega-gripe causadora de uma possível pandemia", a um dos animais ligados à sua mutação!!! Mesmo porque, quem é "porco", não lava direito as mãos, tem maiores possibilidades de pegar a gripe!

Trocadilhos infames à parte... DEU MERDA!!!

Em época de crise capitalista a última coisa a fazer seria criar chifre em cabeça de cavalo ou, trocando em miúdos, incentivar o boicote a mercadorias, como o porco, base alimentar de diversos países do mundo...
Mas eles fizeram.

Agora, para tentar diminuir o prejuízo ou reverter a cagada, mudaram o nome da dita cuja para "Gripe A"...

Em tempos de sensacionalismo, individualismo e consumismo desenfreado, essa possível pandemia pode, para além de fazer doentes e mortos em todo o mundo, nos tornar:

- mais sensacionalistas (basta ver a cobertura da imprensa sobre o caso, que mais parece desejar que a OMS decrete nível 6 de pandemia e aumente exponencialmente o número de mortos... Sem falar da torcida para que os casos suspeitos do Brasil sejam confirmados...);

- mais individualistas (a gripe é pega pelo simples contato com o ar infectado, todos sabemos. Portanto, o isolamento é o melhor remédio! Inexoravelmente: sua luva é sua luva, sua máscara é sua máscara e NINGUÉM TASCA!);

- e mais consumistas (crescem os preços de máscaras cirúrgicas, luvas e tudo mais. Assim como surgem outras coisas inúteis. Máscaras com desenhos, tecidos especiais mais caros, álcool com cheirinho de não-sei-o-quê para assepsia das mãos e dezenas de remédios que prometem curar o mal do porco!).

Realmente estamos à beira de uma pandemia...

Só sei que quando tudo isso acabar (e que acabe rápido) teremos queimas de estoque e grandes liquidações nas farmácias e lojas de conveniência de todo o mundo prometendo preços hipertentadores para o que sobrar...
O pior não é isso.
O pior é que vão vender tudo.


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29 de abr. de 2009

HOMENAGEM ÀS TRABALHADORAS DOMÉSTICAS


27 DE ABRIL - DIA NACIONAL DAS TRABALHADORAS DOMÉSTICAS - A LUTA PELA ORGANIZAÇÃO SINDICAL
(Do Site da CUT - Escrito por Neide Aparecida Fonseca, presidente do Inspir e direção da Contraf/CUT. Foto de Creuza Oliveira, minha homenageada.)

Esse artigo é para você que é sindicalista e talvez tenha uma trabalhadora doméstica em sua casa, ou que tenha familiares, amigos (as) que dispõe desse tipo de serviço, ou ainda você bancário ou bancária, e até banqueiro, que quando acessar nosso sitio, saberá um pouco da história dessas trabalhadoras valorosas.

Dia 27 de abril é o “Dia da Trabalhadora Doméstica”. O maior presente que elas poderiam ganhar seria o cumprimento dos direitos trabalhistas aos quais fazem jus. Quem sabe você poderá ir um pouco além da lei, entendendo que todos os trabalhadores e trabalhadoras devem ter os mesmos direitos. Vamos lá:
Era o ano de 1889, as mulheres negras vão em massa para o trabalho doméstico, tornando-se o esteio de uma família desestruturada pelo longo período escravagista.

Desde lá, até os dias atuais, as mulheres negras ainda são maioria nesse tipo de trabalho, e como toda classe trabalhadora vem travando uma luta incessante para organizar-se. Em 1936 tem-se a fundação da 1.ª Associação de Trabalhadoras Domésticas, na cidade de Santos, por Laudelina de Campos Melo. Mais somente 24 anos depois, em 1960 aconteceria o 1.° Congresso das Trabalhadoras Domésticas, organizado pela Juventude Operária Católica (JOC), no Rio de Janeiro.

O período da ditadura Militar no Brasil, também perseguiu a organização das trabalhadoras domésticas, fechando em 1964 a Associação de Empregadas Domésticas de Campinas. Mas as trabalhadoras não desistiram e continuaram, ora clandestinamente, ora abertamente se organizando, e em 1972 conquistam a Lei 5859.

Em 1986 tem início uma nova etapa. As trabalhadoras entram na mobilização pela Constituinte, caravanas vão a Brasília, e finalmente em 1988 são reconhecidas como categoria, e as Associações de domésticas, finalmente transformam-se em Sindicatos dos (as) trabalhadores (as) domésticos (as).

Na luta contra o tempo para se organizar, em 1997 fundaram a Fenatrad – Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas, filiando-se no ano seguinte à CUT – Central Única dos Trabalhadores, e mais tarde filiam-se a uma entidade internacional – CONLACTRAHO – Confederacion Latinoamericana y Caribeña de Trabajadores Del hogar.

Entretanto, embora todo esse esforço, ainda é frágil a organização das trabalhadoras domésticas, principalmente por quatro motivos:

v A residência não é considerada como local de trabalho.
v Embora produtivo, o trabalho doméstico é visto, inclusive pela legislação, como um trabalho não produtivo, ou seja, não produz lucro.
v As trabalhadoras domésticas estão dispersas em milhares de residências pelo Brasil afora.
v Faltam recursos financeiros.

Neste sentido, enquanto não houver uma legislação que considere como local de trabalho, a residência que tiver uma trabalhadora doméstica, não poderá haver fiscalização, e assim, continuaremos com pessoas (crianças, adolescentes e adultas) trabalhando em regime de cárcere privado; sendo estupradas; castigadas fisicamente; torturadas psicologicamente; tendo seus documentos apreendidos para que não possam “fugir”. Sem o FGTS sendo depositado e o patrão ou patroa fingindo depositar; os acidentes que ocorrem dentro das casas em decorrência do trabalho continuarão muitas vezes sem nenhum tipo de assistência; etc. etc.

Em relação a ser ou não lucrativo, depende do ponto de vista, pois se a trabalhadora doméstica não exercer os cuidados necessários para que a casa “ande bem”, tanto patrão como a patroa, não terão condições de exercerem suas profissões ditas produtivas. Isso foi provado quando há alguns anos atrás, no Rio de Janeiro, as trabalhadoras domésticas de um Condomínio resolveram paralisar suas atividades, porque o elevador de serviço estava quebrado e elas eram obrigadas a subir vários andares. Os patrões, não agüentaram um dia inteiro de greve, imediatamente se reuniram e solucionaram o problema, ou seja, enquanto não se concertasse o elevador de serviço, elas usariam o elevador social, porque eles não agüentavam mais a desorganização de suas residências, e não podiam trabalhar com tranqüilidade. Por isso, consideramos o trabalho doméstico como um trabalho produtivo, pois produz paz, tranqüilidade, limpeza, cuidados, etc., para seus patrões.

Por outro lado, são cerca de oito milhões por todo o Brasil, e o sindicato não tem acesso às residências, dificultando o contato com a trabalhadora, seja para organizar, seja para arrecadar recursos para fortalecimento da luta. Por isso a criatividade tem sido um instrumento permanente dessas sindicalistas, além da perseverança e da vontade de um dia ver o trabalho doméstico ser reconhecido como profissão.

A interlocução dessa categoria com o Governo Federal melhorou bastante, talvez por ser um governo advindo da luta de classes. Assim em 2006 algumas das injustiças da lei 5859 foram corrigidas e novos direitos foram conquistados, a partir da Lei 11.324de 19/07/2007:

É proibido ao empregador (a) doméstico efetuar descontos no salário do empregado por fornecimento de alimentação, vestuário, higiene ou moradia.

O (a) empregado (a) doméstico (a) terá direito a férias anuais remuneradas de 30 (trinta) dias com, pelo menos, 1/3 (um terço) a mais que o salário normal, após cada período de 12 (doze) meses de trabalho, prestado à mesma pessoa ou família, contado da data da admissão. Tal período, fixado a critério do(a) empregador(a), deverá ser concedido nos 12 meses subseqüentes à data em que o(a) empregado (a) tiver adquirido o direito.

O (a) empregado (a) poderá requerer a conversão de 1/3 do valor das férias em abono pecuniário (transformar em dinheiro 1/3 das férias), desde que requeira até 15 dias antes do término do período aquisitivo (Art. 7º, parágrafo único, da Constituição Federal, art. 129 e seguintes da CLT). O pagamento da remuneração das férias será efetuado até 2 dias antes do início do respectivo período de gozo (art. 145, CLT).

É proibido a dispensa arbitrária ou sem justa causa da empregada doméstica gestante desde a confirmação da gravidez até 5 (cinco) meses após o parto.

Os (as) trabalhadores (as) domésticos (as) passam a ter direito aos feriados civis e religiosos. Portanto, a partir de 20 de julho de 2006, data da publicação da Lei n.º 11.324/06, caso haja trabalho em feriado civil ou religioso o empregador deve proceder com o pagamento do dia em dobro ou conceder uma folga compensatória em outro dia da semana (art. 9º da Lei n.º 605/49).

Embora a luta dessas trabalhadoras avance, ainda precisam conquistar:
Horas-Extras, FGTS obrigatório, Seguro-Desemprego, Salário – Família, Acidente de Trabalho, e Adicional Noturno.

Dia da Trabalhadora Doméstica

A data histórica de maior referência para os trabalhadores e trabalhadoras em todo o mundo é o 1º de maio – Dia Internacional do Trabalho. Além dessa data, as categorias profissionais possuem muitas outras datas que servem como referência das suas histórias, suas lutas, suas conquistas, seus avanços e seus sonhos por justiça, solidariedade igualdade e fraternidade, como por exemplo, a categoria bancaria; comerciaria, etc.

Com forte ligação com a igreja, sendo que a maioria das sindicalistas passou pela JOC – Juventude Operária Católica, não é por acaso que o dia das Trabalhadoras Domésticas, está ligada a homenagem a Santa Zita, que faleceu em 27 de abril de 1278.
Santa Zita era filha de camponeses pobres e nasceu em Monsagrati, Itália, no ano de 1218, começou a trabalhar como doméstica aos doze anos, sendo maltratada e humilhada durante os 48 anos que trabalhou para a mesma família na cidade de Lucca.
Durante o pontificado de Pio XII Santa Zita foi transformada em padroeira das trabalhadoras domésticas.

No Brasil, várias lideranças, militantes ou ex-militantes da JOC, contribuíram para massificar a data, como referência, dentre elas a companheira Laudelina de Campos Melo, que no ano de 1936 fundou a primeira Associação de Trabalhadoras Domésticas, na cidade de Santos/SP.

Que a luta dessa categoria possa contar com a solidariedade das demais categorias, e que neste dia 27 de abril, possamos todos e todas fazer uma reflexão do significado de ser trabalhadora doméstica no Brasil, reforçando o coro dessas bravas mulheres...

23 de abr. de 2009

JOAQUIM BARBOSA 1 X 0 GILMAR MENDES



Uma TV 29": Seiscentos e noventa e nove reais no débito.
Um sofá dois lugares: Setecentos e cinquenta e oito reais no crédito.
Assistir, de dentro da própria casa, em pleno feriado, à sessão do STF onde o Presidente do Supremo Gilmar "Dantas" é descascado pelo Ministro JOaquim Barbosa: NÃO TEM PREÇO!!!

PS: Ministro JB, ontem o SUPREMO foi você...
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LADO A LADO


Por Luís Fernando Veríssimo

Encosto ou não encosto? Só o joelho. O que pode acontecer? Ela dizer “Mr. Lula, please!” Ai eu recolho o joelho, peço desculpas, “aimsórri, aimsórri” e pronto.
Se eu soubesse falar inglês, explicaria. Sabe o que é, Elizabeth? Eu estava aqui pensando: quando é que, lá em Pernambuco, eu ia imaginar que um dia estaria sentado
ao lado da rainha da Inglaterra? Não sei quem é que me botou aqui para tirar esta fotografia dos G-20. Não acho que tenha sido um pedido seu, "Quero o bonitinho de barba à minha esquerda". Claro que não. Mas o fato é que estou aqui e o Barack está aí atrás em algum lugar, de pé e se perguntado o que eu tenho que ele não tem...
O Sarkozy não deve nem estar aparecendo. Ficou atrás da Merkel e não vai sair na foto. E eu aqui ao seu lado, na primeira fila.

Isto significa muito, viu Elizabeth? Lá na minha terra vai ter gente se mordendo de raiva. Onde já se viu, aquele retirante nordestino que nem fala direito sentado à esquerda da Rainha da Inglaterra? Quando eu me elegi muita gente ficou horrorizada: como é que vai ser quando ele, um torneiro mecânico, tiver que nos representar num jantar oferecido, por exemplo, pela coroa inglesa? Vai ser servido na cozinha, para não dar vexame na escolha dos talheres. E aqui estou eu, sentado ao lado - com todo o respeito - da coroa inglesa em pessoa.
Se foi o protocolo que me botou aqui, ele acertou, viu Beth? Você, queira ou não, não é só a rainha dos ingleses, é, simbolicamente, a rainha de todos os loiros de olhos azuis do mundo, incluindo o Barack. De todos os bandidos que causaram esta crise e hoje nos infernizam a vida. E, de certo modo, eu sou o seu oposto. Sou uma espécie de rei republicano dos não-loiros do mundo - ou pelo menos deve ter sido essa a idéia do protocolo aos nos botar lado a lado. Todos os outros chefes de estado desta fotografia seriam dispensáveis.
A foto poderia ser só de nós dois e estariam todos representados.

E isto significa outra coisa também, viu Beth? Eu não me contentei em ter nascido na miséria, no Nordeste, e quis mais. Não me contentei em ser um torneiro mecânico
em São Paulo e quis mais. Não me contentei em ser um líder sindical e quis mais. Não me contentei em perder eleição atrás de eleição, insisti e acabei presidente.
Agora estou aqui, lado a lado com a Rainha da Inglaterra, num dos pontos mais altos da minha carreira, e também quero mais. Por isso minha perna se moveu e meu joelho
encostou no seu. De certa forma, o movimento da minha perna foi o passo final da caminhada que começou em Pernambuco, tantos anos atrás. Já que, ao contrário de você,
Beth, não posso ficar no poder para sempre.

Fonte: Blog Entrelinhas

21 de abr. de 2009

LUA ADVERSA

Cecília Meireles
(Poesia de feriado melancolicamente chuvoso...)


Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha
Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

2 de abr. de 2009

29 de mar. de 2009

PARABÉNS À CIDADE DE SALVADOR

De uma das filhas D'Oxum...


Nessa cidade todo mundo é d'Oxum
Homem, menino, menina, mulher
Toda essa gente irradia magia
Presente na água doce
Presente na água salgada e toda cidade brilha...
Presente na água doce
Presente na água salgada e toda cidade brilha...
Seja tenente ou filho de pescador
Ou importante desembargador
Se der presente é tudo uma coisa só
A força que mora n'água
Nao faz distinção de cor
E toda cidade é d'Oxum...

É d'Oxum, é d'Oxum ô, é d'Oxum
Eu vou navegar
Eu vou navegar nas ondas do mar eu vou navegar,
Eu vou navegar
É d'Oxum...

22 de mar. de 2009

LEMBRANÇA - DOIS POEMINHAS DE AMOR

TEREZA
Manuel Bandeira

A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna
Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)
Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.

AMAR
Carlos Drummond Andrade

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

5 de mar. de 2009

O PARAÍSO COMO PRÊMIO

Nas vésperas do dia alusivo à Luta das Mulheres, o 8 de março, nos deparamos com os noticiários expondo recentes exemplos da dura realidade da violência contra as mulheres no Brasil, com um agravante considerável: essas mulheres violentadas são apenas meninas.
Isso já seria demais para as nossas cabeças feministas (e até para as cabeças dos que acham que o feminismo morreu ou se tornou obsoleto, assim como acham que todos os "ismos" que buscam algum ideal emancipatório repousam o sono eterno) se não fosse a confirmação daquela frase mais que pessimista: "Nada é tão ruim que não possa piorar"...
A Igreja Católica cometeu mais um de seus absurdos - e o que vimos - Mais violência!
Já não bastasse sua história de inquisições e preconceitos, provou mais uma vez de que lado está no que diz respeito aos Direitos Humanos das Mulheres...
Sinto dizer que cada dia que conheço a Igreja Católica, mais tenho certeza da necessidade de ser feminista e socialista. Na minha infância a palavra excomungada era como um palavrão, algo feio, vergonhoso. Hoje, uma atéia-baiana-batizada, vinda de escola católica, acho que essa excomunhão é, no mínimo, libertadora.
Que as Católicas pelo Direito de Decidir não estejam sozinhas nessa luta interna pelos verdadeiros "princípios cristãos" e que esses profissionais e cidadãos, heróis e heroínas, agora hereges, se orgulhem de cometerem a justa heresia de não condenar uma menina de nove anos, violentada durante toda a sua curta vida, a mais sofrimento ou até à morte - o prêmio maior - a conquista do paraíso...

Boa leitura!
ISa


INSANIDADE, CRUELDADE OU PRINCÍPIOS CRISTÃOS?
Católicas pelo Direito de Decidir manifesta-se sobre o caso da menina pernambucana de nove anos, grávida por estupro de seu próprio padastro

O que pode levar alguém a desejar obrigar uma criança, com risco de sua própria vida, a manter uma gravidez fruto de uma inominável violência? Rígidos princípios religiosos? Ou insanidade e crueldade? Estamos falando do caso ocorrido em Pernambuco da menina de nove anos que apresentou gravidez (de gêmeos!) como resultado de estupros seguidos que sofreu de seu padrasto, violência a que foi submetida desde os seis anos de idade.

A gestação foi interrompida no dia 04 de março último, às 10h da manhã, seguindo o protocolo do Ministério da Saúde que permite abortamento em casos de gravidez de risco ou quando a gestante foi vítima de estupro, ainda que o aborto continue sendo crime no país. O caso da garota pernambucana se enquadrava nos dois casos, já que a gravidez de fetos gêmeos também colocava sua vida em risco, pois a menina pesa apenas 36 kg e mede 1,36 m. Por seu muito pequena, ela não tem estrutura física para suportar a gravidez de um feto, muito menos de dois. É de se imaginar, ainda, os danos psicológicos a que seria submetida se fosse obrigada a levar essa gravidez a termo.

Para nossa surpresa - e indignação!-, entretanto, houve uma intensa movimentação de militantes religiosos contra a interrupção dessa gravidez tão perigosa, sob todos os aspectos, para essa pequena criança de nove anos. Até mesmo ameaça de excomunhão houve! Sob o argumento da defesa da vida, essas pessoas não se importaram em nenhum momento nem com a violência já sofrida por ela, nem com a real possibilidade que havia de a menina perder a própria vida. Se essa criança - que tem existência real e concreta, com uma história de vida, relações pessoais, afetos, sentimentos e pensamentos, enfim -, se essa menina não merece ter sua vida protegida, trata-se de defender a vida de quem? De uma vida em potencial ou um conceito, uma abstração? Quem tem o direito de condenar à morte uma pessoa em nome de se defender uma possibilidade de vida que ainda não se concretizou e não tem existência própria e autônoma?

Pensamos que se configura como pura crueldade essa intransigente defesa de princípios abstratos e de valores absolutos que, quando confrontados com a realidade cotidiana, esvaziam-se de sentido e, principalmente, da compaixão cristã. Seria possível imaginarmos o que Jesus Cristo diria a essa menina? Seria ele intolerante, inflexível e cruel a ponto de dizer a ela que sua vida não tem valor? Ou ele a acolheria gentilmente, procuraria ouvir sua dor e a acalentaria em seu sofrimento? Será que ele defenderia que ela sofresse mais uma violência ou usaria sua voz para gritar contra os abusos que ela sofreu?

Felizmente, a menina pernambucana pôde, graças ao respeito a um direito democraticamente conquistado, diminuir os danos das inúmeras violências que sofreu e a gravidez foi interrompida. Assusta-nos, porém, saber que, ao contrário dessa menina, outras tantas vidas têm sido ceifadas em nome de princípios intransigente, duros, violentos e nada amorosos. Assusta-nos o desprezo pela vida das mulheres. Assusta-nos que suas histórias sejam descartadas, que sua existência na Terra esteja valendo menos do que a crença autoritária de algumas poucas pessoas.

Para que a nossa democracia seja efetiva, as pessoas precisam ter o direito real de escolher. Por isso, defendemos que as políticas públicas de saúde reprodutiva e os direitos reprodutivos já conquistados sejam garantidos. Além disso, lutamos pela legalização do aborto, para que as mulheres que assim desejem, possam levar qualquer gravidez até o fim. Mas que as que não o desejam, não sejam obrigadas a arriscar suas vidas, ou mesmo morram, por se pautarem por valores éticos distintos.

São Paulo, 05 de março de 2009
Católicas pelo Direito de Decidir

http://www.catolicasonline.org.br/cddbr@uol.com.br

26 de fev. de 2009

BAIANIDADE NAGÔ

Em época de carnaval o meu sangue fica mais baiano do que nunca!
Já passamos a quarta-feira de cinzas, mas "A Bahia carnavalesca impregnou em mim..."

Como a música incidental no Show de 30 anos dos Doces Bárbaros...

"um baiano, um coco
dois baianos, dois cocos
três baianos, uma cocada
quatro baianos, uma baianada!"

Bjos baianos!
ISa

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APRENDAM A FALAR CORRETO O "BAIANÊS" (SEM H)


Baiano que é baiano...
Baiano que é baiano fala porra a cada dez palavras.
Na Bahia, porra é tudo, menos a porra improperiamente dita Brasil afora, ops, Brasil adentro.
Como diz o 'embaixador' Renato Fechine (um paraibano que abaianou de vez), porra na Bahia é adjetivo, substantivo,
interjeição, adjunto adnominal e advérbio de modo, de tempo, de lugar, de intensidade. .. da porra toda.
"O cara mora na casa da porra" = mora longe. Também pode-se dizer: "Ele mora na casa da desgraça", que é a mesma coisa,
ou seja, mora longe pra caramba.
Baiano que é baiano aguenta comer pelo menos dois acarajés sem passar mal... Se você não sabe, acarajé é hambúrguer de baiano.
Baiano que é baiano chama as amigas de "ordinárias" e elas não se incomodam, não se sentem ofendidas - ao contrário,
sabem que é um tratamento carinhoso.
Na Bahia, você olha para sua amiga (seja ela pretinha, branquela, loira ou morena) e a chama de "nigrinha" e ela acha o máximo.
Baiano não admite fulerage pu seu lado. Traduzindo: não gosta de cheiro mole. Oxente, não entendeu? Ah, voc ê precisa se
matricular num curso de baianês.
Pegar ou bater um rango e filar a bóia significam a mesma coisa, ou seja, almoçar, comer, matar quem tá te matando.
Baiano que é baiano não bebe. Come água. Fica em águas. "Ontem Fulano estava em água dura". Tradução: estava trêbado, pra lá de Maracangalha.
O baiano, quando chama um brother pra beber, fala: "Rumbora cumê água".
Todo baiano chama Graça de Gal, Wagner de Wal, Gilberto de Gil...
Para meus amigos, parentes e aderentes, eu não sou Marcelo. Sou Macelo (engolimos o "r"). Sérgio é Sejo,
terça-feira é têça-fêra; bar é bá e cerveja é ceveja.
Baiano que é baiano engole a letra "d" do gerúndio: - Qué qui cê tá FAZENO? -Eu tô DURMINO... Caminhano e cantano e seguino o trio elétrico...
Numa roda de baianos e baianas, quando alguém chega após ter tomado banho, alguém sempre diz: "Ó pai, chegou
toda tomada banho". Traduzindo: "Ela chegou limpinha, cheirosinha" .
Baiano que é baiano sabe o significado da frase: "O cara tava mais enfeitado que jegue na Lavagem do Bonfim". Ou seja,
usava excessivo número de adereços e enfeites.
Baiano sabe que brown [bráun] não é a forma carinhosa de chamar Carlinhos Brown, o omelete-man. Brown
é adjetivo de pessoa brega-espalhafatosa- cafona.
O motorista que põe mil adesivos no carro, o cara cheio de colares de prata e pulseiras.. "Que cara mais brown!"
Baiano que é baiano sabe o que é "lavar a jega". É se dar bem, levar vantagem, lavar a égua, lavar a burra.
Todo baiano sabe que jante não tem nada a ver com o verbo jantar. Na Bahia, jante significa aro de pneu.
"Rodar na jante", no sentido denotativo baiano, é o carro rodar com o pneu vazio ou furado. Mas, na putaria, rodar na jante é
transar sem camisinha.
Baiano que é baiano sabe o que é nestante. É "nesse" + "instante" = daqui a pouco.
Baiano fala pra semana (na próxima semana), parumês (no próximo mês) e paruano (no próximo ano). "Paruano sai milhó",
diz o dono do bloco de carnaval.
Só baiano sabe o que é falar "de hoje a oito". "Meu aniversário é de hoje a oito", ou seja, é daqui sete dias.
Baiano que é baiano fala horas de relógio. "Fiquei duas horas de relógio esperando aquele filadaputa". Em geral, fala-se
"horas de relógio" quando se quer enfatizar atraso, demora.
Baiano é convidado para um aniversário e leva uma renca de amigos (renca = muitos, uma catrupia, muita gente).
Baiano fala na moral em vez de por favor... "Pega isso aí pra mim, na moral".
Baiano chama ônibus de humilhante e taxista de taquicêro.
Baiano acha legal quando dizem que ele é "retado"; "boca de zero nove" ou "um pinico cheio"... Ê baiano porreta!
O baiano, quando tá indo embora, não diz "tô indo"; ele diz "tô chegando"..
Não vai embora, se pica. "Vou me picar" significa "vou cair fora".
Na Bahia, é comum você tratar um amigo, um colega ou um desconhecido de "pai". Se for mulher, "mãe". "Venha, pai". "Venha, mãe".
També m é comum tratar um desconhecido como "maluco", mas é uma forma carinhosa. "Vai, maluco".
Quando se diz "A reunião não teve um pé de pessoa", se quer dizer que a reunião não teve ninguém.
"Colé a de mermo?", pergunta um baiano ("qual é a boa?"). E o outro responde: "É niúma" (significa "tudo bem").
Baiano não usa o termo arretado, que é uma invenção dos outros. Baiano fala "retado".
Raul Seixas canta uma música que diz: "Não planto capim guiné pra boi abanar rabo/ Tô virado no diabo/ eu tô retado com
você. Tá vendo tudo e fica aí parado/ Com cara de veado/ Que viu o caxinguelê".
"Tô retado" significa "tô zangado".
Mas retado também exerce a função de superlativo: "É bonito que é retado" [é muito bonito]. "O cara é retado de feio" [é muito feio].
Quando se diz "Ele é um cara retado", significa, "é boa praça".
A Bahia é o único estado que começa com B - de Brasil.
O mapa da Bahia é quase igual ao do Brasil, você já viu?
A Bahia tem a maior costa marítima do País, você sabia?
A Bahia faz divisa com oitos estados (do Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste) .
Salvador é a terceira cidade mais populosa do país, você sabe? [Não, nem os soteropolitanos sabem disso.]
De acordo com um magérrimo satirista baiano, chamado Gordurinha, um baiano é uma coisa divertida; dois baianos,
uma boa pedida; três baianos, uma conversa comprida; quatro baianos, um discurso na avenida.. Ééééé.
Diz-se, também, o seguinte:
1 baiano = um escritor famoso
2 baianos = uma luta de capoeira
3 baianos = um grupo de axé
4 baianos = um terreiro de candomblé



* Marcelo Torres, jornalista, baiano e cronista
(alguns trechos deste texto são de autoria anônima, extraídos de mensagens recebidas pelo cronista).

9 de jan. de 2009

DAS PEDRAS DE DAVI AOS TANQUES DE GOLIAS

José Saramago (*)

Afirmam algumas autoridades em questões bíblicas que o Primeiro Livro de Samuel foi escrito ou na época de Salomão ou no período imediato, em qualquer caso antes do cativeiro da Babilónia. Outros estudiosos não menos competentes argumentam que não apenas o Primeiro, mas também o Segundo Livro de Samuel, foram redigidos depois do exílio da Babilónia, obedecendo a sua composição ao que é denominado por estrutura histórico-político-religiosa do esquema deuteronomista, isto é, sucessivamente, a aliança de Deus com o seu povo, a infidelidade do povo, o castigo de Deus, a súplica do povo, o perdão de Deus. Se a venerável escritura vem do tempo de Salomão, poderemos dizer que sobre ela passaram, até hoje, em números redondos, uns três mil anos. Se o trabalho dos redactores foi realizado após terem regressado os judeus do exílio, então haverá que descontar daquele número uns 500.
Esta preocupação de rigor temporal tem como único propósito propor à compreensão do leitor a ideia de que a famosa lenda bíblica do combate (que não chegou a dar-se) entre o pequeno pastor Davi e o gigante filisteu Golias anda a ser mal contada às crianças pelo menos desde há 25 ou 30 séculos. Ao longo do tempo, as diversas partes interessadas no assunto elaboraram, com o assentimento acrítico de mais de cem gerações de crentes, tanto hebreus como cristãos, toda uma enganosa mistificação sobre a desigualdade de forças que separava dos bestiais quatro metros de altura de Golias a frágil compleição física do louro e delicado Davi. Tal desigualdade, segundo todas as aparências enorme, era compensada, e logo revertida a favor do israelita, pelo fato de Davi ser um mocinho astucioso e Golias uma estúpida massa de carne, tão astucioso aquele que antes de ir enfrentar-se ao filisteu apanhou na margem de um regato que havia por ali perto cinco pedras lisas que meteu no alforje, tão estúpido o outro que não se apercebeu de que Davi vinha armado com uma pistola. Que não era uma pistola, protestarão indignados os amantes das soberanas verdades míticas, que era simplesmente uma funda, uma humílima funda de pastor, como já as haviam usado em imemoriais tempos os servos de Abraão que lhe conduziam e guardavam o gado. Sim, de fato não parecia uma pistola, não tinha cano, não tinha coronha, não tinha gatilho, não tinha cartuchos, o que tinha era duas cordas finas e resistentes atadas pelas pontas a um pequeno pedaço de couro flexível, no côncavo do qual a mão esperta de Davi colocaria a pedra que, à distância, foi lançada, veloz e poderosa como uma bala, contra a cabeça de Golias, e o derrubou, deixando-o à mercê do fio da sua própria espada, já empunhada pelo destro fundibulário. Não foi por ser mais astucioso que o israelita conseguiu matar o filisteu e dar a vitória ao exército do Deus vivo e de Samuel, foi simplesmente porque levava consigo uma arma de longo alcance e a soube manejar. A verdade histórica, modesta e nada imaginativa, contenta-se com ensinar- nos que Golias não teve nem sequer a possibilidade de pôr as mãos em cima de Davi.
A verdade mítica, emérita fabricante de fantasias, anda a embalar-nos há 30 séculos com o conto maravilhoso do triunfo de um pequeno pastor sobre a bestialidade de um guerreiro gigantesco a quem, afinal, de nada pôde servir o pesado bronze do capacete, da couraça, das perneiras e do escudo.
Tanto quanto estamos autorizados a concluir do desenvolvimento deste edificante episódio, Davi, nas muitas batalhas que fizeram dele rei de Judá e de Jerusalém e estenderam o seu poder até a margem direita do Eufrates, não voltou a usar a funda e as pedras.
Também não as usa agora. Nestes últimos 50 anos cresceram a tal ponto as forças e o tamanho de Davi que entre ele e o sobranceiro Golias já não é possível reconhecer qualquer diferença, podendo até dizer-se, sem insultar a ofuscante claridade dos fatos, que se tornou num novo Golias. Davi, hoje, é Golias, mas um Golias que deixou de carregar pesadas e afinal inúteis armas de bronze. Aquele louro Davi de antanho sobrevoa de helicóptero as terras palestinas ocupadas e dispara mísseis contra alvos inermes; aquele delicado Davi de outrora tripula os mais poderosos tanques do mundo e esmaga e rebenta tudo quanto encontra na sua frente; aquele lírico Davi que cantava loas a Betsabé, encarnado agora na figura gargantuesca de um criminoso de guerra chamado Ariel Sharon, lança a "poética" mensagem de que primeiro é necessário esmagar os palestinos para depois negociar com o que deles restar.
Em poucas palavras, é nisto que consiste, desde 1948, com ligeiras variantes meramente tácticas, a estratégia política israelita. Intoxicados mentalmente pela ideia messiânica de um Grande Israel que realize finalmente os sonhos expansionistas do sionismo mais radical; contaminados pela monstruosa e enraizada "certeza" de que neste catastrófico e absurdo mundo existe um povo eleito por Deus e que, portanto, estão automaticamente justificadas e autorizadas, em nome também dos horrores passados e dos medos de hoje, todas as acções próprias resultantes de um racismo obsessivo, psicológica e patologicamente exclusivista; educados e treinados na ideia de que quaisquer sofrimentos que tenham infligido, inflijam ou venham a infligir aos outros, e em particular aos palestinos, sempre ficarão abaixo dos que padeceram no Holocausto, os judeus arranham interminavelmente a sua própria ferida para que não deixe de sangrar, para torná-la incurável, e mostram-na ao mundo como se tratasse de uma bandeira.
Israel fez suas as terríveis palavras de Jeová no Deuteronômio: "Minha é a vingança, e eu lhes darei o pago". Israel quer que nos sintamos culpados, todos nós, directa ou indirectamente, pelos horrores do Holocausto, Israel quer que renunciemos ao mais elementar juízo crítico e nos transformemos em dócil eco da sua vontade, Israel quer que reconheçamos de jure o que para eles já é um exercício de fato: a impunidade absoluta. Do ponto de vista dos judeus, Israel não poderá nunca ser submetido a julgamento, uma vez que foi torturado e queimado em Auschwitz. Pergunto-me se esses judeus que morreram nos campos de concentração nazistas, esses que foram perseguidos ao longo da História, esses que foram trucidados nos progrons, esses que apodreceram nos guetos, pergunto-me se essa imensa multidão de infelizes não sentiria vergonha pelos actos infames que os seus descendentes vêm cometendo. Pergunto-me se o fato de terem sofrido tanto não seria a melhor causa para não fazerem sofrer os outros.
As pedras de Davi mudaram de mãos, agora são os palestinos que as atiram. Golias está do outro lado, armado e equipado como nunca se viu soldado algum na história das guerras, salvo, claro está, o amigo americano. Ah, sim, as horrendas matanças de civis causadas pelos chamados terroristas suicidas... Horrendas, sim, sem dúvida, condenáveis, sim, sem dúvida. Mas Israel ainda terá muito que aprender se não é capaz de compreender as razões que podem levar um ser humano a transformar-se numa bomba.

(*) Têxto escrito para o Parlamento Internacional dos Escritores após visita feita a Yasser Arafat, em Ramallah, em fins de Março, com uma delegação que reunia oito intelectuais de quatro continentes.