25 de jan. de 2008

UM RIFLE PARA DOMINGAS

Por Ronaldo Naziazeno
(amigo-amado-irmão, físico, professor, comunista e quase pró-feminista...)



Para o imigrante, a chegada à São Paulo pode ser humilhante, quase insuportável; ele agüenta — que jeito, se veio para agüentar e comer? Engole comida e desaforos. Mas nem por isso a humilhação é aceita como natural, não se enganem, os suplícios ficam arquivados, transmutam-se em vinganças ou sabedorias.

Domingas, por exemplo, que veio pra cá há décadas: baiana, ainda feia, porque pobre, ia para a escola à noite de barriga vazia, escolhia entre pagar o transporte ou a comida.

Agora nós a vemos diante das vitrines de uma certa Casa Vogue, loja de moda cara da Avenida Paulista.

No vidro que a separava das roupas não via a si mesma, dentes precisando de trato, o cabelo desde sempre chamado de ruim por outras mulatas como ela; emitia uma impressão de sujeira que a pobreza confere a certos recém-chegados em cidade grande, não importa quanto sabão o portador use, anterior à pobreza limpa, esta, já um princípio de integração.

Diante dos trajes que, um só, lhe pagaria meses de refeições, Domingas caiu em êxtase digno de Santa Teresa, perdoe-me a doutora da Igreja. Esqueceu-se de si mesma, diante daquele museu do dinheiro, e entrou no transe das impossibilidades que, com dois ou três suspiros, ficariam poéticas, mas não dá para entrar nessa, honestamente: distâncias culturais, abismos de grana, São Paulo, uma roupa com jeito europeu a meio metro e inalcançável. Vixe! Enfeitar a carência?

Uma funcionária da Vogue veio de lá de dentro como um raio, interrompendo os 60 segundos de contemplação: “Sai daqui, você não pode ficar aqui, faça o favor de ir embora”. Do topo de sua condição de empregada da loja, nordestina já corrigida pelo salário nem tão alto, pousada na sua integração à cidade, enxotou sua irmã de espécie e geografia, como a um vira-lata que invade um banquete.

E, entredentes, “Xô!”, mandou-a embora do lugar público, da calçada. Porque a riqueza e seus prepostos mandam e privatizam. Hannah Arendt não estava por perto para lamentar a transformação cada vez maior do espaço público em privado.

Sem Arendt como defensora diante da funcionária da Vogue, Domingas foi chorar em Cidade Patriarca, que nem era lugar quente. Nunca entendi por que a recomendação de chorar em lugar quente.

A Casa Vogue fechou, não por praga de Domingas. Sinto dizer que não sei o que houve com ela, se São Paulo a integrou ou a expulsou. Mas seus sucessores estão por aqui.

Outro dia vi e ouvi um deles, Ferréz, escritor jovem que mora no Capão Redondo, mais branco que Domingas e já mais bem-nutrido. Está em outra etapa. Dizia que seus textos querem a revolução e que se não conseguir revolucionar com eles, pegará um rifle.

4 de jan. de 2008

REGLAS DEL JUEGO PARA LOS HOMBRES QUE QUIEREN AMAR A MUJERES

I
El hombre que me ame
deberá saber descorrer las cortinas de la piel,
encontrar la profundidad de mis ojos
y conocer la que anida en mí,
la golondrina
transparente de la ternura.

II
El hombre que me ame
no querrá poseerme como una mercancía,
ni exhibirme como un trofeo de caza,
sabrá estar a mi lado
con el mismo amor
con que yo estaré al lado suyo.

III
El amor del hombre que me ame
será fuerte como los árboles de ceibo,
protector y seguro como ellos,
limpio como una mañana de diciembre.

IV
El hombre que me ame
no dudará de mi sonrisa
ni temerá la abundancia de mi pelo
respetará la tristeza, el silencio
y con caricias tocará mi vientre como guitarra
para que brote música y alegría
desde el fondo de mi cuerpo.

V
El hombre que me ame
podrá encontrar en mí
la hamaca para descansar
el pesado fardo de sus preocupaciones
la amiga con quien compartir sus íntimos secretos,
el lago donde flotar
sin miedo de que el ancla del compromiso
le impida volar cuando se le ocurra ser pájaro.

VI
El hombre que me ame
hará poesía con su vida,
construyendo cada día
con la mirada puesta en el futuro.

VII
Pero sobre todas las cosas,
el hombre que me ame
deberá amar al pueblo
no como una abstracta palabra
sacada de la manga,
sino como algo real, concreto,
ante quien rendir homenaje con acciones
y dar la vida si necesario.

VIII
El hombre que me ame
reconocerá mi rostro en la trinchera
rodilla en tierra me amará
mientras los dos disparamos juntos
contra el enemigo.

IX
El amor de mi hombre
no conocerá el miedo a la entrega,
ni temerá descubrirse ante la magia del
enamoramiento
en una plaza pública llena de multitudes
podrá gritar —te quiero—o hacer rótulos en lo alto de los edificios
proclamando su derecho a sentir
el más hermoso y humano de los sentimientos.

X
El amor de mi hombre
no le huirá a las cocinas
ni a los pañales del hijo,
será como un viento fresco
llevándose entre nubes de sueño y de pasado
las debilidades que, por siglos, nos mantuvieron
separados
como seres de distinta estatura.

XI
El amor de mi hombre
no querrá rotularme o etiquetarme,
me dará aire, espacio,
alimento para crecer y ser mejor,
como una Revolución
que hace de cada día
el comienzo de una nueva victoria.

Gioconda Belli